Deus é responsável ou culpado pelo sofrimento humano?
Se Deus é amoroso e Todo-Poderoso por que não acaba com o mal? Ou ainda, se Deus existe, por que sofremos?
Pensa comigo, como podemos conciliar a existência de um Deus amoroso com horrores como o Holocausto (considerado como um dos maiores massacres da humanidade) – onde aproximadamente 6 milhões de judeus foram exterminados, ou ainda como conciliar a existência de um Deus bondoso com a realidade de crianças sendo vítimas de abuso sexual diariamente ou com qualquer outra forma de agressão à dignidade ou à vida humana? Por que Deus não impede tais atos se é amoroso e Todo-poderoso?
Se Deus é soberano, Ele não poderia impedir ou acabar com o estupro, homicídio, genocídio e todas as formas de crueldade que assolam o mundo? Por que Ele permite que o sofrimento continue?
Por que Deus permite que pessoas que amamos sejam atingidas por doenças como o câncer ou sofram um AVC? por que tantas vidas são marcadas pela dor?
Imagine, como conciliar a existência de um Deus bom com a existência do mal ou do sofrimento?
Nisto se baseia o paradoxo de Epicuro de Samos, sobre a coexistência de Deus e o mal. O mesmo argumentava:
“ Ou Deus quer eliminar o mal e não pode, portanto, não é onipotente, e deixa de ser Deus, ou Deus pode suprimir o mal e não quer, por isso não é bom e deixa de ser Deus”.
Essa linha de pensamento de Epicuro assenta em como um Deus onipotente e benevolente pode coexistir com o mal, questionando assim a interferência ou até a própria existência de Deus no mundo.
Se por exemplo Deus vê uma criança sendo estuprada por seu próprio pai, e Deus pode e deseja impedir, por que tal mal acontece? E se Deus pode impedir mas não deseja impedir, isso não faz dele um Deus malevolente?
Essa é a ordem de pensamento do Filósofo Epicuro: “Deus deseja acabar com o mal, mas não é capaz ? Então não é onipotente. É capaz mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe ? Não é capaz e não deseja ? Então por que lhe chamamos de Deus ?”
Seria Deus apenas um espectador diante do sofrimento humano? Essas questões certamente refletem o profundo dilema da fé e da existência do mal.
É neste contexto que muitos ateus argumentam contra a existência de Deus, devido ao paradoxo entre a existência de um Deus bom e a existência do mal ou do sofrimento.
“ O Problema do sofrimento é a mais potente arma do ateísmo contra a fé cristã “
-C.S Lewis
Pois muitos partem da premissa de que não pode existir um Deus bom e Todo-Poderoso que não elimina o mal que devasta a humanidade.
Diante de tudo isto, como conciliar a existência de um Deus bom que não põe um fim ao mal?
Permita-me fazê-lo perceber isto:
Para Deus acabar com o mal terá de acabar com os homens pecadores
Para Deus erradicar o sofrimento que há no mundo, parte-se do pressuposto de que terá de acabar com o mal, e assim também com o pecador, porque o pecador é um agente ativo do mal, devido à sua natureza pecaminosa.
Portanto, para Deus acabar com o mal, a solução não é acabar com o diabo e seus demônios apenas, mas com o próprio homem pecador – que é culpado e condenável diante de Deus por seus pecados.
Mas Deus não pode acabar com o mal sem acabar com o homem, se Ele é Todo-Poderoso?
A onipotência de Deus não é o seu único atributo. Além de ser Todo-poderoso, Deus é Santo e Justo. Deus não pode simplesmente acabar com o mal, como quem faz desaparecer o mal magicamente. Ao punir o pecador pelo mal, satisfaz a sua própria justiça, pois fazendo o contrário disso, Deus estaria sendo contra Ele mesmo ou contra o seu caráter justo.
Por outra, Deus não tem a obrigação de retirar o homem de uma situação ou condição de sofrimento – que o próprio homem predispôs-se ou escolheu quando pecou no Éden.
O sofrimento que existe no mundo é consequência justa do pecado de Adão. O ser humano só está lidando com as consequências desse pecado.
E por que eu devo lidar com as consequências de um pecado que eu não cometi? – podes estar pensando. Mas agora imagina a resposta de Deus olhando simplesmente para o seu Filho, que sofreu por pecados que ele também não cometeu. O ponto aqui é que somos filhos de pais pecadores (Adão e Eva) e herdamos sua natureza e consequência do seu pecado.
A culpa do sofrimento que há no mundo é do próprio homem como consequência do pecado
Portanto, o sofrimento humano é consequência da queda — A culpa ou à responsabilidade não recai sobre Deus, mas sobre o homem. Deus não deve ser acusado pelo sofrimento que assola o mundo. Devemos humildemente retirar Deus da cadeira dos réus e ousar colocarmo-nos lá. Somos culpados, e desta feita, merecemos passar por qualquer tipo de sofrimento, devido à nossa condição pecaminosa, perante a um Deus Santo e justo.
Diante dessa realidade, a pergunta “Por que coisas más ou ruins acontecem a pessoas boas?” perde seu fundamento, pois, aos olhos de Deus, não há ninguém verdadeiramente bom. Todos somos pecadores, corrompidos desde a queda, e a Escritura confirma que “não há justo, nem sequer um” (Romanos 3:10).
O sofrimento não é uma injustiça de Deus, mas uma consequência do pecado que afeta toda a humanidade. Em vez de questionarmos por que há dor no mundo, deveríamos nos maravilhar com a graça de Deus, que, apesar de nossa condição, oferece redenção por meio de Cristo.
O que nos resta, então, é rendermo-nos a Deus em humildade e gratidão, reconhecendo que Ele, em sua justiça, poderia ter destruído toda a humanidade. Tendo em conta que Ele não nos deve nada — nem amor, nem salvação, nem graça. Pelo contrário, o que realmente merecemos é a punição pelos nossos pecados.
Segundo Santo Agostinho:
“De Deus procedem todas as coisas existentes, e , apesar disso, Deus não é autor do mal”
Deus não é autor da imoralidade que existe no mundo, e olhando para a realidade de crianças sendo estupradas, a culpa recai ao estuprador, ou seja, ao homem, assim como qualquer tipo de ato imoral ou pecaminoso.
Assim sendo, todo homem é digno de todo e qualquer sofrimento que sobre si recai, pois ele é mau, injusto, perverso, contaminado pelo pecado, e é por essa razão que o sofrimento existe no mundo.
Deus garantiu a Adão que se comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreria (Gênesis 2:17). Como resultado da desobediência ou do pecado de Adão, entrou o sofrimento no mundo, bem como desastres naturais, epidemias ou doenças.
Mas Deus não seria o culpado desses desastres naturais e das doenças que assolam a humanidade?
“Desastres naturais e mortes prematuras são resultado direto da maldição sobre a criação por causa da Queda da humanidade”
-Norman Geisler
Desta feita, esses desastres naturais, como terremotos, tempestades, sismos e outros fenômenos, que são eventos que há séculos afetam a humanidade causando destruição e perda de vidas, não são necessariamente culpa de Deus, mas sim da consequência da queda do ser humano.
Como Deus seria culpado se foi o homem que transgrediu a sua lei? Tudo isto é resultante dessa transgressão.
A existência do medo, ansiedade e a depressão, também são resultantes da queda no Éden
Vejamos, o primeiro relato de medo na história da humanidade encontra-se na Bíblia, logo após a transgressão de Adão: “Tive medo, porque estava nu…” (Gênesis 3:10). Isso indica que tanto o medo quanto a ansiedade, depressão, complexos de inferioridade… ingressaram na experiência humana como resultado direto da queda, como ramificações da morte, garantidas por Deus caso o homem pecasse.
Dessa forma, todo sofrimento — seja físico ou emocional — é, em última instância, uma consequência desse pecado, que corrompeu a criação e afastou a humanidade da plenitude originalmente planejada por Deus.
Outras consequências do pecado de Adão que valem ser mencionadas referem-se à pobreza e à desigualdade social, extensões do individualismo, e da ganância humana, frutos da falta de amor ao próximo — que no fundo é fruto do pecado.
Jesus é a resposta de Deus diante do sofrimento que há no mundo
O plano de Deus para acabar com o sofrimento que há neste mundo incluiu a morte do seu Filho amado, ou seja, Deus enviou o seu próprio Filho para sofrer conosco e por nós — para dar fim ao sofrimento de forma definitiva.
De acordo com William Lane Craig:
“Paradoxalmente, ainda que o problema do mal seja a maior objeção à existência de Deus, no fim do dia, Deus é a única solução para o problema do mal”
Deus é a única solução para a resolução do problema do mal ou do sofrimento.
Só Deus pode acabar com o sofrimento, e para isso, Ele crucificou o seu próprio Filho na cruz, para pôr fim aos sofrimentos presentes neste mundo, assim como nos livrar do sofrimento futuro, diante do tribunal divino.
“O Principal propósito do Evangelho não é de nos poupar do sofrimento presente, mas do sofrimento futuro”
- -Charles Spurgeon
De acordo a Spurgeon, o interesse maioritário de Deus não é de nos livrar do sofrimento presente, como uma doença, como um câncer ou de nossa pobreza, ou qualquer outro sofrimento, mas de livrar-nos do sofrimento futuro, ou seja, da condenação eterna.
Porque o maior problema da humanidade na verdade não é o sofrimento, mas o pecado, e este é condenável diante de Deus, e foi por intermédio do pecado que o sofrimento entrou no mundo, e que muitas pessoas sofrem.
Sem o pecado no mundo, a morte, doença, tristeza, dor ou sofrimento não existiriam. Repare que o pecado é tão terrível que não promove apenas dor, angústias e sofrimentos neste mundo, mas como também promoverá sofrimento futuro diante do julgamento divino, para todos aqueles que permanecerem em seus pecados. Portanto, a morte de Jesus na cruz pelos nossos pecados, é Deus cortando o maior problema da humanidade pela raiz, assim como condenar todos aqueles que não creem em seu filho será cortar tal problema pela raiz, tudo isso afim de solucionar aquilo que vemos como consequências do mesmo.
Deus não está calado diante do sofrimento que há no mundo, pelo contrário, Ele está agindo diariamente por intermédio de nós
Apesar do facto de que o propósito maior de Deus seja de nos livrar do sofrimento futuro, Deus se importa conosco, e uma das suas formas de agir em socorro aqueles que necessitam, é através daqueles que abraçam a generosidade, o amor ao próximo, o acolhimento aos mais necessitados, ou seja, Deus procura agir através do próprio ser humano. Desta feita, por que culpabilizar a Deus quando podemos ser instrumentos de socorro aos outros em suas mãos ?
Portanto, Deus não é um Deus que se cala diante do sofrimento, mas que procura intervir diariamente através de nós. E neste exato momento está agindo, por intermédio da pessoa que doa, ou da pessoa que ajuda o próximo.
Entretanto, Deus está aguardando o momento em que agirá de forma totalitária.
O plano de Deus consiste em acabar com o mal ou com sofrimento de forma definitiva
O dia do grande julgamento chegará, onde Deus irá derrotar totalmente o mal- a morte, o pecado, o diabo e consequentemente o sofrimento – e gozarão disto aqueles que depositam a sua fé em seu Filho Jesus Cristo.
Estes estarão em um lugar onde não haverá dor, tristeza, sofrimento ou choro. Como observamos na Bíblia:
“ Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou”
(Apocalipse 21:4)
Se Deus não existe, então não há esperança de vida eterna, ou de uma vida sem dor, choro ou sofrimento.
Imagine um lugar onde o sofrimento, a dor ou a morte não mais existem, onde não haverá algum resquício de mal ou de tristeza, onde não haverá crises de ansiedade, depressão, estupro ou qualquer maldade.
“ Se Deus não existe, então nós estamos perdidos, sem esperança na vida e cheios de sofrimentos desnecessários e irreparáveis”
– William Lane Craig
Se Deus não existe então nem se pode vislumbrar uma vida sem dor ou sofrimento, e portanto, não há esperança para a humanidade. Estamos totalmente perdidos. Mas se de facto há Deus, há sentido em nosso sofrimento presente, há propósito para tudo. Há esperança de uma vida melhor e um lugar melhor.
O ser humano que tem a sua fé em Jesus Cristo só não goza ainda deste lugar melhor no momento presente, porque Deus reservou um tempo para julgar o mundo, e está aguardando o arrependimento de alguns. Pois, acredite, pior que o sofrimento que assola a humanidade no momento presente, será o sofrimento que assolará no futuro.
Por isso, corra para Cristo, pois Ele é a única e grande esperança para a humanidade caída. Esperança de uma vida sem dor, sem sofrimento, sem choro, totalmente repleta de paz e de alegria.
Corra pra Jesus!
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna”
(João 3:16)